oi! eu sou noites;
tenho 19 anos e uso qualquer pronome!
aqui posto alguns de meus poemas, contos e outros textos;
estão marcados com uma 𖤐 os meus favoritos, comece por estes!
cuidado para não perder os segredos no final de cada texto...
me siga no twitter (@maisnttes) para saber quando posto coisas novas!
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Naquela noite, nem mesmo a natureza estava presente como minha companhia. Lá estava eu caminhando pelo deserto morto e silencioso, iluminado apenas pela parte da lua que não se escondera atrás das nuvens. Tudo que se ouvia era o pesar dos meus passos cansados, prestes a deixar meu decrépito receptáculo voar para longe, como já era previsto há mais tempo do que eu possa contar. Talvez minha carcaça tenha escolhido não me abandonar por pena, diferente de todo o resto de mim já havia sido levado pelo vento: meu passado, meu desejo, minhas histórias, minhas memórias, meus amigos, meu nome. Tudo que me resta é meu corpo apodrecido e minha coroa de prata.Seria eu o rei dos sábios, ou dos tolos? Dos vivos, ou dos mortos? Dos bons, ou dos maus? Não consigo me lembrar, mas sinto que venho de algum povo que precise de mim: quase consigo ver os rostos de lindas crianças clamando ansiosamente pelo meu retorno. Por isso eu continuo seguindo em frente, caminhando como um fantasma no limiar da realidade e dos sonhos, das memórias e das ilusões. Tudo que eu tinha já fora soprado para longe pela cruel ventania da vida, e tudo que me resta é a minha velha coroa enferrujada. Acho que todos precisam se prender a algo para continuar.Junto com o amanhecer, avisto uma motocicleta vermelha e reluzente vindo contra o sol em minha direção, com sua imensa velocidade trazendo consigo uma enorme nuvem de pó. Quanto mais se aproximava, mais familiar me parecia a silhueta do piloto, vestindo seu titular capacete escarlate, macacão negro e botas cor de vinho. Ele estava olhando pra mim? Será que ele sabe onde fica meu destino? Possivelmente tenha vindo me buscar. Porém meu tímido, ressentido e envergonhado aceno de mão foi engolido pela forte tempestade de areia que perseguia o piloto, que parou alguns metros atrás de mim, como se esperasse para ver como eu reagiria. Quando me virei para observá-lo, vi a coroa ser puxada pela tempestade para longe de mim.O tesouro de prata voava e se dobrava no ar como uma folha de papel, pegando cada vez mais velocidade. Instintivamente, arremessei meu corpo contra a correnteza, o que rapidamente chacoalhou meu frágil cadáver e me jogou aos ventos junto a minha coroa. Senti como se estivesse na velocidade de um foguete, mas eu ainda via a silhueta do piloto manter a mesma altura e distância.Em meio ao vendaval que se formava, vi a reluzente luz dos fragmentos da minha identidade que havia sido levada: alguns sonhos, alguns medos, alguns traumas, algumas verdades e se me lembro bem, algumas alegrias. No centro de tudo, lá estava ela: a preciosa extensão da minha existência, tão enferrujada quanto eu próprio. Quantos fragmentos eu poderia recolher agora? Quanto de mim eu conseguiria recuperar se atirasse meus braços em direção às luzes, nesse momento?Assim que coloquei minhas mãos em minha coroa, o furacão se dissipou e me deixou no mesmo lugar do qual parti. Coloquei a coroa na cabeça e me levantei, onde avistei um homem ruivo montado em um cavalo avermelhado olhando na minha direção, expressando pena, nojo, quem sabe empatia? Já estava anoitecendo, eu não me alimentava há muito tempo e não descansava a dias, mas me sentia muito mais leve do que antes. Sinto que o vento havia levado mais alguma coisa de mim: quem sabe alguma esperança?Mas eu não conseguia mais me importar, depois de tanto que já me foi roubado. Felicidades, tristezas, oportunidades, nada disso precisa ser parte de mim: tudo que eu sou é um corpo apodrecido com uma coroa de prata. E novamente, meus passos invadem o silêncio da noite outra vez...novembro de 2022pouco antes de eu escrever esse texto, eu estava procurando uma origem boa para um personagem de D&D. procurando por homebrews, eu achei uma que me cativou muito: o “rei esquecido.” um rei imortal que viveu mais do que o seu próprio reino, e agora vaga esquecido pelo tempo. no fim eu não usei essa origem (mecanicamente ruim) e a mesa nem aconteceu, mas ainda acho a ideia muito foda.
i get up.lonely burning through the sky, i see a brightful, beautiful star.
i see myself surrounded by dim paths covered in blood: blood that is not mine.
your light shines only one of the paths ahead, making it brim with color, joy, pain, life.
my decrepit mind refuses to take one more step in the cold: so, i follow you.
while walking under your glow, i feel your warmth iradiating my guts, my innards.
the lifelessness inside me slowly gets killed by your unbending, scorching light.
feeling my blood boiling, my organs melting and my skin ashing, i keep walking.
and day by day, my body burns and dies. after that, i get up and keep moving.
and i die again today, to die again tomorrow, to die again the day it follows.the ashes mix into my melted flesh, now held by a more grotesque shape and composure.
no longer the same. never the same. forever lessening. forever evolving. forever moving. forever burning.
your celestial presence brutally ashs away my eyes, my voice, my body, my thoughts, my fears, my hopes.
the more i move to the future you bright for me, the more i die. i die again, and again, and again, and again.
yet every time i get up, cowering under your gruesome shine, i see once more the path your love took me on.
sometimes, i see lots of pretty colors, sometimes disgusting ones. yet always colors i never saw. something i never lived.
say, what other beautiful colors and loathsome visions am i able to see? how much more life can you bring me?
to walk the path of life is to walk between love and hate, heaven and hell.
say, if i follow you, what other pieces of heaven can you show me?
as long as you do that, i will follow you to the depths of hell.your fiendish light scorchs my skin hotter each death. my body gets weaker after each death.
there will be a time when my legs will give in. i can’t expect anything else, not after shadowing your light.
but as long as your glow guides me to new colors, new lifes, new heavens, i will keep getting up. again, and again.
and when my legs no longer move, i will drag myself through the floor with my arms, sweating and crying.
you will lovingly tear the fibers of my muscles up, turning them into fuel for your hateful, painful enkindling.
and when my arms cease to be, i will vainly bite the floor below, childishly hoping, asking, wishing to get up.
my teeth will break, my jaw will stretch open, and your divine flames will engulf my now unmoving body.
and when i can no longer bite, i will scream until my throat rips itself apart, and my coughs drown in blood.
will my screams be full of love? of hate? of despair? of hope? will i scream again, and again, and again?
and when my voice finally fades, all that will be left for me to do is appreciate my eternal graveyard.
say, is it foolish of me to believe you will kill me in the prettiest heaven i would ever go?
say, you wouldn’t leave me here in hell to rot, would you?
say, can i trust you?…
and before i hear your answer, i die again.novembro de 2024esse texto foi em grande parte inspirado por Chainsaw Man. mas mais especificamente, a representação simbólica foi diretamente inspirada pelo começo da abertura do anime, KICK BACK, que diz “努力 , 未来 , A BEAUTIFUL STAR” (ESFORÇO, FUTURO, UMA ESTRELA BONITA). se você não assistiu Chainsaw Man, assista. se você assistiu Chainsaw Man, leia o mangá. e se você leu o mangá, leia de novo.
Eu abro meus olhos, e ergo a cabeça: as únicas luzes que vejo são as distantes lâmpadas acesas em alguns quartos dos prédios postos frente à janela do meu apartamento. Sei que é cedo demais para me levantar, mas não adianta nada ficar mais uma noite deitada na cama, de olhos fechados, tentando me convencer de que estou tendo uma noite de sono tranquila. Atravessando o escuro do meu lar, com meus pés e mãos guiando cada um de meus passos, saio do meu quarto e chego ao meu banheiro. Mesmo morando sozinha, fecho e tranco a porta. Respiro fundo, acendo uma vela e olho para o espelho.No meu reflexo vejo um rosto cansado, destruído, vazio. A mesma face que sempre encontro em dias que não consigo dormir; uma tomada pela tristeza, pelo estresse, pelo desespero. Submissa aos arrependimentos do passado e a pesadelos ligados ao futuro, eu me curvo frente ao espelho. Em momentos como esse, em que sou posta frente à minhas próprias falhas e forçada a tomar atitude, me resta mais uma última saída: a rota de fuga que nós sempre tomamos.Ligar a torneira, pegar o pequeno pote sem tampa que deixo no banheiro e o punhal posto ao lado dele. Com o punhal, fazer um corte na minha mão: então, o sangue lentamente sai do meu corpo e escorre para dentro do pote: sangue esse banhado por todo o meu amargor, toda a minha angústia, toda a minha insegurança, todo o meu medo. Não se pinta o sangue só com dor, mas também com os poucos pingos de amor, empatia e satisfação que ainda me restam.A água da torneira enche o pote e a mistura de sangue com água transborda para dentro da pia, e então eu me virar e olhar para o meu reflexo: e no espelho ver um demônio, que pega o pote com meu sangue e bebe. Por fim apagar a vela, desligar a torneira e voltar para a cama. Pois no dia seguinte, eu acordarei renovada; e o medo que permeava meus pensamentos pulsaria só na minha mão cicatrizada. E então, eu enfaixaria a mão e iria viver minha vida.E toda noite, eu fiz isso. Só depois que esse processo virou parte da minha rotina que eu comecei a notar que a maioria da minha família, dos meus amigos, dos meus colegas e dos meus conhecidos sempre estão com uma das mãos enfaixadas. Vivendo nossas vidas com menos alegria, mas com menos tristeza: anêmicos frente à vida e à morte a nossa volta.Houve uma época em que eu me questionei: será que eu sou uma pessoa ruim por fazer isso? Conversei sobre isso com minha família, meus amigos e até com alguns colegas do trabalho.
— Ruim? Não, a única pessoa ruim nessa história é o demônio — disse o meu irmão.
— Não é saudável de forma alguma... mas é uma forma de ter controle, eu acho? — disse um colega meu.
— Bem, fazemos isso pois não temos outra saída, certo? A culpa é do demônio, que espalha a maldade; não nossa — disse meu melhor amigo.É claro. Nós sabemos que não é certo. Nós sabemos que é um processo muito perigoso e muito nocivo. Nós sabemos que nem sempre o preço que pagamos vale a pena pelo pacto que fazemos. Mas também sabemos que o sofrimento existe para além do nosso controle. Também sabemos que, no nosso mundo, nem sempre temos uma saída saudável para tudo. E que nem sempre é culpa nossa; afinal, todo o mal do mundo vem do demônio.E com essa resposta, eu fiquei um pouco mais aliviada. Quando algum familiar, amigo ou colega vinha me perguntar sobre, o que eu dizia? Eu dizia que não é culpa nossa. A culpa é do demônio. E dia após dia, quando nos deparávamos com um acidente, uma tragédia, um massacre, um sentimento, um medo, um alívio, nós falávamos que a culpa era do demônio. Continuamos com nossas mãos enfaixadas e mais anêmicos com o passar dos anos.Houve um dia em que eu e meus amigos estávamos em um restaurante, e um rapaz veio vender alguns doces na nossa mesa. Nos desculpamos e dissemos que não tínhamos dinheiro, sendo que todos estávamos com as carteiras cheias. O moço então foi para outra mesa, também repleta de pessoas com mãos enfaixadas, que disse o mesmo que a gente.
— Coitado né. É de fato uma pena — disse um dos meus amigos, um pouco mais novo, com um pouco mais de emoção.
— Pois é. O demônio age da forma mais cruel — eu disse. E todos na mesa murmuraram em confirmação.Também houve outro dia em que eu e minha família estávamos sentados na sala, assistindo TV, e vimos um documentário sobre uma moça falando sobre os preconceitos que sofria por causa de seu jeito de se vestir.
— É uma pena que o demônio faça essa mulher passar por isso — digo me virando para meu irmão.
— Não; é uma pena que o demônio tenha feito essa mulher se vestir assim — diz meu irmão, sem expressão.E por muito tempo, assim como todos faziam, eu culpei o demônio. Culpei o demônio pelo que era ruim, e pelo que eu julgava ser ruim. Culpei o demônio pela minha fraqueza, pelo meu orgulho, pela minha solidão, pelo meu medo. E por anos eu tentei fugir da verdade que sempre soube: a verdade que todos nós sabemos.Hoje, eu não consegui dormir. No reflexo, vejo meu rosto cansado, destruído, anêmico. Sem felicidade, sem alegria, sem amor, sem empatia, sem compaixão: somente vergonha e arrependimento. Eu sei que isso não é certo. Eu sei que esse é um processo perigoso. Mas, de forma tola, acredito que vale a pena: pois não tenho mais força para me enfrentar no espelho; ou melhor, não quero me enfrentar agora.Covardemente, faço o que sempre fazemos em momentos como esse: ligo a torneira, pego o pequeno pote sem tampa e o punhal posto ao lado dele. Com o punhal, faço um corte na minha mão. O sangue lentamente sai do meu corpo e escorre para dentro do pote. A água da torneira enche o pote e a mistura transborda para dentro da pia, e eu olho para meu reflexo: e só vejo meu rosto.Mas dessa vez, pinto meu sangue com essa culpa, com essa vergonha, com essa memória. Eu sei que é errado, mas não posso mais ver a verdade; ou melhor, não quero mais ver essa verdade. Quando eu vier para meu banheiro em uma noite sem sono, e eu garanto que eu vou, quero poder olhar para o espelho e enxergar somente um demônio maligno, e não o meu reflexo. E então acordar no dia seguinte, e continuar o culpando pelo mal da vida e do mundo.E depois de fazer meu desejo, continuo nosso ritual: pego o pote e bebo o meu próprio sangue. Apago a vela, desligo a torneira e volto para a cama. E antes de dormir, eu percebo que não me importo de ser uma pessoa ruim; e também não me importo de acordar um pouco mais anêmica amanhã, desde que eu consiga ficar mais um único dia sem essa culpa.dezembro de 2024esse texto foi o que eu inscrevi no meu primeiro concurso literário: uma antologia da Cartola Editora chamada “Uma barganha com o Demônio.” quando eu me inscrevi, eu pensei em fazer algo bem diferente da sinopse original, e fiquei muito feliz com o resultado. no entanto, o conto não foi aceito.
QUACK, QUACK, RVBDL.
Uma pata dócil e meiga passeava em direção à borda do lago, onde lá estavam 5 ovos. O caminho que sempre fez com elegância e delicadeza agora fazia com pressa e animação: pois esperou ansiosamente por esse dia a sua vida inteira. Naquele dia, se chocariam seus ovos e ela finalmente se tornaria mãe. Esperou por muitas horas, até que seus filhos finalmente começavam a nascer.Um a um, chocavam-se os ovos. Ela se encantava com o primeiro pato, se apaixonava pelo segundo, se orgulhava do terceiro e teve o quarto como preferido. Todos eles são enxurrados de amor e cuidado desde o momento em que nasceram. Mas ainda restava um quinto ovo, pequenino e amarelado, que só tinha uma pequena rachadura. Somente quando o sol se põe que meu ovo se chocou e eu nasci.Meu corpo era deformado, meu pescoço era largo e pequeno e minhas penas eram pintadas com um padrão estranho e confuso, como se alguém tivesse me bagunçado. Mais agitado e menos esperto que meus irmãos, eu me balancei para fora do meu ovo e caí desengonçadamente no chão. Minha mãe me olhava, confusa, se perguntando o que havia de errado comigo. Por um momento, me confunde com outro animal, mas por fim decide me dar cuidado e carinho tal qual fez com meus irmãos, me confundindo com seu filho.Eu cresci junto de meus irmãos e minha mãe em uma pequena fazenda ao norte. No começo, eu até consegui viver como um patinho normal, mas quanto mais o tempo passava mais feio e distraído eu ficava; havia ficado tão feio que nenhum outro animal além da minha família interagia comigo. Tão distraído com os próprios medos e inseguranças que sempre se machucava e tropeçava. Tão esquisito que já não era mais parte da família de fato.Meus irmãos me excluíam de suas atividades e de sua rotina, pois eu era muito “desajeitado.” Minha mãe me tratava diferente dos meus irmãos pois eu era “diferente.” Os outros animais não falavam comigo pois eu era “exótico.” E talvez eu fosse todas essas coisas, mas a cima de tudo isso: eu era um patinho muito, muito feio.E por muito tempo eu aceitei ser só um patinho feio, quase sem pescoço e de patas estranhas. Aceitei que eu nunca seria belo e elegante como eram os outros animais. Aceitei que era diferente, “especial,” um animal à parte. Um monstro à parte. E me convenci por muitos e muitos anos de que isso era tudo que eu poderia ser, e que eu tinha dado o meu melhor.Mas um questionamento não saía da minha cabeça. Uma dúvida que, tal qual uma chama, foi aumentando durante a minha vida e incendiando minha vontade e ambição.Se eu deixar de ser um patinho feio e inútil, será que finalmente serei feliz?Em um momento de fraqueza e vulnerabilidade, enquanto todos os animais dormiam, eu fugi. Fugi para a floresta, desesperadamente em busca de uma vida melhor. Em busca de um lugar onde me ensinem a ser um patinho bonito? Em busca de um animal mágico que possa me transformar completamente? Em busca de um fruto milagroso? Em busca de uma resposta, mesmo sem ter certeza de qual era a minha pergunta.Na calada da noite, tão fundo na mata que não se via mais a luz da lua, eu me encolhia. Exausto, faminto, sedento, assustado, escondido dentro de um pequeno arbusto. Sem força para se mexer, longe de casa, longe de meu destino, longe de tudo. Cansado demais para me mover: acho que essa é minha última parada. Minha fome aumenta, mas minha barriga para de roncar.O arbusto emite um brilho forte, que me cega momentaneamente. Tão forte quanto o sol, mas ao mesmo tempo fraca demais para iluminar o ambiente à volta. Uma luz bela, inspiradora, mas que soa triste e infeliz. Isso tem que ser uma alucinação, certo? Isso é impossível. “Impossível.” Parece que é impossível um patinho feio como eu mudar de vida. Parece que é impossível uma aberração como eu se tornar belo e elegante. Parece que é impossível um patinho feio como eu ser feliz.Meus olhos se fecham. Eu aceito isso. Aceito que eu sou diferente dos outros, e que tem coisas que nunca poderei fazer. Aceito que não serei nada mais do que um patinho feio, e está tudo bem. Afinal, ninguém é perfeito não é? Eu dei o meu melhor a minha vida inteira. Eu deveria estar satisfeito com o que eu consegui. Sim, eu sou feliz. Eu sou um patinho feio e feliz. Digo isso para mim mesmo uma, duas, três vezes.Mas quem eu estou enganando?A verdade é que todos na fazenda me tratavam mal porque eles são maus. São cruéis, mas estão certos. Tratar uma aberração como eu de forma normal é mesmo impossível. Eu sou e sempre fui um patinho feio, mas talvez pudesse ter sido mais que isso. Se eu fosse menos desengonçado, menos distraído, com um belo corpo talvez eu pudesse finalmente ser melhor.Se eu fosse bonito, talvez eu finalmente pudesse ser feliz.Minha mente se apaga, e eu perco a consciência.Uma pata dócil e meiga passeava em direção à borda do lago, onde lá estavam cinco ovos. Esperou por muitas horas, até que eles, um a um, começassem a se chocar. Se encanta com o primeiro pato, se apaixona pelo segundo, se orgulha do terceiro e tem o quarto como preferido. Enche todos de amor desde o momento em que nasceram. Mas ainda resta um ovo.Meu ovo é grande e dourado, e reflete a luz do sol. Os outros animais se reúnem próximos ao meu ovo, esperando ansiosamente. Somente ao pôr do sol, que ele se racha e eu nasço. E dizem que minha penugem era branca como a lua; que meu pescoço era fino, alongado e elegante; que meu corpo era esbelto, grande e majestoso. Me disseram que eu era lindo. Minha mãe me olhava, confusa, impressionada com o tamanho de minha beleza. Por um momento, me confunde com outro animal, mas decide me amar e cuidar de mim, me confundindo com seu filho.E durante toda a minha outra vida, todos os animais da fazenda me trataram com respeito e admiração. Disseram que meu nado é elegante, que meu voo é angelical, que eu sou especial. Meus irmãos se esforçam para estar ao meu redor, agora que me veem como um ídolo. Os outros animais me invejam quando eu passo, e minha mãe se orgulha toda vez que me vê. E eu sei que sou tudo isso. Aceito que sou belo, elegante e majestoso. Finalmente, eu sou feliz.Mas quem eu estou enganando?Minha ambição me cega novamente. No meu pior momento, eu corro para a floresta. Viajo sem rumo na direção do arbusto brilhoso. No caminho, me lembro da minha trajetória antiga: me lembro de ser um patinho feio no passado. Me lembro de achar que queria ser do jeito que sou agora. Achei que eu precisava que os outros me aceitassem. E isso é sim verdade, mas esse não é mais o principal problema. Eu estava enganado.A verdade é que todos na fazenda não me enxergam como eu realmente sou. Eles não veem que meu nado é desastrado e desengonçado. Não percebem como meu longo e torto pescoço é estranho e um pouco assustador. Não percebem que sou grande demais para um pato e pequeno demais para os outros animais. Não percebem que sou sim diferente, mas não um animal diferente, uma aberração. Um monstro.O arbusto não está aqui. Será que eu errei o lugar? Em pânico, cansado, eu procuro por ele. Procuro por uma chance de modificar meu corpo mais uma vez? Procuro por alguém como eu? Procuro por uma resposta, finalmente entendendo qual é a minha pergunta.Meu corpo cede. Eu caio no chão, sem energia e sem ambição. Longe de ser um patinho feio, longe de todos que me amam na fazenda, longe de me amar. Eu me encolho na escuridão da mata fechada, minha fome desaparece. E nos meus últimos momentos, eu aceito. Aceito que fiz o melhor que pude. Aceito que, diferente da minha outra vida, eu tratei todos com carinho e bondade. Aceito que sou o animal mais belo do mundo e, talvez, seja impossível ser mais belo que isso. Aceito que sou mais belo que todos eles. Aceito que não sou mais um patinho feio, e havia me tornado um ser mais belo que um cisne.Se eu for bonito, eu vou ser feliz?Não. Eu estava enganado. A verdade é que, enquanto meu corpo for feito de carne e osso, ele sempre vai ser desprezível. Talvez mais bonito que os corpos dos outros animais, talvez mais bonito que tudo no mundo. Mas ainda desprezível. Aceitar algo assim é impossível. “Impossível;” é isso que eu quero ser. Essa é a resposta que eu busquei por tanto tempo.Quero voar alto mesmo sem ter asas. Quero que minha branca penugem reflita todas as cores, as reais e as imaginárias, sem mostrar nenhuma de suas penas. Que eu consiga enxergar o mundo com clareza mesmo sem ter olhos. Que as minhas patas sejam divididas em milhares, mas que nenhum outro animal possa vê-las. Sim, eu quero a perfeição. Eu quero o impossível. E pouco antes da minha mente se apagar e minha consciência se esvair, eu rio comigo mesmo.A verdade é que é impossível alguém como eu ser feliz.fevereiro de 2025esse texto eu escrevi como uma releitura de um conto antigo chamado "cisne", que é uma bosta. era sobre um cisne se achar horrível. tinha uma página só, e era um lixo, e eu odiava aquele texto por ele ser horrível. com ele reescrito agora, ficou um pouco melhor.
Éramos eu e você, sozinhas nesse jardim
Troncos cinzentos, folhas tingidas em carmesim
E o meu sangue vibrava
E o seu sangue chamava
Foi essa dor que nos reuniu aquiDuas crianças caminhavam abaixo o luar
Uma mais burra, mais nova, fazia alguma piada
E eu achava engraçado, eu dava risada
Você não achava, mas você ria mesmo assimVocê era mais velha, mais sábia, sensacional
Sua voz era arte, sua presença era sem igual
Ficava meio calada, vestindo um sorriso na cara,
E fazia de tudo para eu poder sorrirVocê dizia que o sangue era nosso laço
Você dizia que o sangue era confiável
Porque ele nos guiava, ele nos juntava
Sendo bobas, eu e você acreditamos nissoToda vez que o momento chegava
Onde a lua some em meio à madrugada
“Por favor” eu implorava
“Só uma vez” envergonhada
Você cantava, e era tão lindo de se ouvir
E eu olhava admirada, como criança eu sonhava
Será que eu também vou poder ser assim?Houve um dia que a gente se encontrou de novo
Mas dessa vez o sangue esquentava mais, ele não parou
E na nossa frente uma árvore, sem folhas e sem alma
Cheia de gasolina, vazando aquele cheiro horrívelEu era burra e fiquei parada
Você era esperta e tentou me ajudar
Mas você não era muito rápida
E eu também não vi nada
Só vi o fogo que começou a surgirTodo o jardim é coberto pelo incêndio
Os troncos cinzentos permanecem intocados
As folhas vermelhas agora em sangue se desmanchavam
E o nosso sangue nos forçava a ficar paradas
Eu tentava fugir, meu corpo não deixava
Você parava de tentar, o fogo você aceitava
O sangue não era nosso laço? Não era confiável?
Foi por que mesmo que nós acreditamos nisso?Só uma criança assustada, outra desesperada
E mesmo cheia de medo, você cuidava de mim
O fogo vêm a pele queima, e o sangue esquenta
O medo me consome e meu corpo treme
E eu saio correndo, gritando em silêncio,
Covarde como eu sou, te deixei lá e fugiE o incêndio leva tudo, metade de mim mesma
Eu saí de lá viva, mas com certeza não inteira
Sem olhar para trás, sem olhar pros machucados
Eu saí do jardim e deixei lá sozinhaO tempo passa e eu te encontrei mais uma vez
Quando o sangue ordena você tem que obedecer
Você ainda é sábia, sua voz ainda é arte,
Mas o fogo tirou tanto de você e de mim
Você tá sempre calada, tentando vestir o sorriso na cara
Por que você faz isso, depois de tudo que eu fiz?A madrugada chega mas você não canta
Você me disse que não é mais criança
Mas eu sei o que você não me fala, eu sei a verdade
Que essa nossa memória queimou com a gente no jardim
E então o sangue se afasta
Você se afasta
Eu me afasto
Será que é isso que eu sempre quis pra mim?E eu tão burra disse “O fogo havia te queimado”
E eu tão burra disse “O sangue havia te controlado”
De novo, te deixei de lado, e o tempo passava
O que será que você fez para merecer a mim?Hoje eu percebo o meu erro e digo
Eu vou te tirar de dentro do jardim
E eu vou me queimar, mas de lá eu vou te tirar
Porque você é a face do meu final feliz
Porque você é a última pessoa do mundo
Porque você me amava e cantava sorrindo
Sendo boba, agora eu acredito nissofevereiro de 2025esse é um poema extremamente pessoal e por isso acho que é o mais simbólico. eu fiquei muito tempo tentando escrever um conto sobre isso, mas nunca me sentia a vontade. então com o ritmo do Granola - MHRAP na cabeça eu escrevi o poema inteiro em uma sentada só, sem revisão. não ficou lá muito foda mas eu gostei
Acredito que meu maior motivador para continuar dando aulas é poder ver as próximas gerações se desenvolvendo, desabrochando como flores. Sinto que é sobre fazer a diferença, sabe? Se eu puder guiar pelo menos um de meus alunos à construção de uma visão de mundo mais evoluída, bem-estruturada, respeitosa e comunitária nesse mundo tão cheio de preconceito e ódio, vou sentir que estou fazendo a minha parte como professor. O trabalho de um professor é educar.Entrei na sala do primeiro ano hoje; estou dando uma matéria nova chamada “Convívio em Sociedade.” Às vezes me pego pensando que alguém formado em sociologia seria mais adequado a lecionar essa disciplina; mas veja bem, se os alunos gostam de mim e a coordenação acredita que eu dê conta do recado, acho que não há problema nenhum. Afinal, que tipo de filósofo eu seria se não aceitasse um desafio de vez em quando?A aula de hoje era sobre respeito.
━ Nós seres humanos somos únicos: não como espécie, mas sim como indivíduo. Cada um de nós é uma pessoa especial, diferente de todas as outras. Por isso, devemos respeitar nossas diferenças e aprender a conviver uns com os outros. — digo na frente da sala, poucos minutos antes do intervalo.
— É muito importante aceitar a diversidade do outro para impedir a intolerância. O que é estranho para alguns é o normal de outros; só mantendo a mente aberta e agindo com educação que podemos construir um ambiente confortável para todos. — felizmente, a maioria dos alunos olha para mim com rostos de afirmação, em concordância. A outra minoria só não estava prestando atenção.
— Devemos respeitar os gostos de cada um, como aqueles que gostam de desenhar… — digo isso enquanto olho para um dos alunos que estavam desenhando em uma das carteiras. Ele não parece perceber.
— …as crenças, opiniões, sonhos, medos. Devemos respeitar a vivência de cada um. — a maioria dos alunos continua em afirmação, e meu coração se aquece e fica mais feliz.
— Em um resumo mais simples, devemos respeitar tanto os veganos e vegetarianos quanto respeitamos os assassinos canibais.O sinal do intervalo toca, e a maioria da turma sai correndo em direção à cantina. Alguns alunos saem mais devagar, conversando; alguns meninos acabavam de acordar, alguns saindo apressadamente e outros com maior lentidão. Estava me preparando também para sair da sala quando uma aluna vem até minha mesa. Loira, cabelos longos, vestindo um casaco vermelho por cima do uniforme do colégio. Fica sempre no fundo da sala, mas sempre quieta e estudiosa. Suas notas são geralmente muito altas, e seus textos sempre muito bem detalhados. Ela se aproxima timidamente de mim antes que eu saia da turma.
— P-professor… — ela gagueja, reunindo coragem para tirar uma dúvida.
— Sim?
— E-eu… não acho que devemos respeitar assassinos canibais.
Fico em silêncio, um pouco surpreso, mas espero ela finalizar seu raciocínio.— Quer dizer… eles são canibais, certo? Eles matam as pessoas e depois devoram a carne delas. É nojento; não só nojento, mas nos faz sentir medo de sair na rua e morrer por causa deles. Se satisfazem às custas de pessoas inocentes, sendo que eles poderiam simplesmente comer carne de outros animais. É sádico, doentio — ela não olha para mim enquanto fala de forma chocantemente confiante, mas quando olha nos meus olhos volta com a postura envergonhada.
— P-p-por isso eu… não acho que isso deveria ser... é… permitido... — ela diz, agora incerta, insegura do próprio raciocínio.
— Minha querida, veja bem… — digo a ela, com calma, classe e um leve sorriso. — …fico feliz que você tenha compartilhado seus pensamentos comigo. Por vezes, é muito difícil entender o por quê algumas pessoas agem de forma “sádica” e “doentia,” como você disse. E nem sempre vamos entender muitas dessas coisas. Eu mesmo, por exemplo? Até hoje não entendo porquê os jovens de hoje em dia têm essa mania de usar bonés para trás; ao meu ver, é inútil, feio e esquisito.Ela parece querer dizer algo a mais, mas claramente não quer me interromper. Então tento finalizar meu argumento mais rapidamente.
— O que quero dizer é que ao longo da nossa vida iremos estranhar muita coisa. E isso é normal. É normal achar algumas coisas estranhas e bizarras. Mas o que importa não é o que achamos, e sim como agimos. Afinal, muitas pessoas devem estranhar muita coisa em nós, certo? Por isso que devemos tolerar o diferente, entende? Pois também queremos ser tolerados.Agora ela aparenta estar meio confusa, o que é ótimo; o papel de um educador é fazer seus alunos pensarem.
— Por isso, tome cuidado com a forma de se pensar nas características de outras pessoas. Todos merecem nosso respeito, certo? Até os assassinos canibais são pessoas como nós. Certo?
— S-sim. A-acho que sim. Vou pensar nisso. — ela diz, indo em direção à porta da sala.
— O-obrigada, professor. — sai envergonhada. Prefiro acreditar que a vi sorrindo no corredor.Ah sim, imagino como deve ser a sua sensação. A sensação de ser apresentada uma nova perspectiva, que permitirá ela se desenvolver cada vez mais como uma pessoa bondosa, generosa e caridosa. A mesma sensação que me motivou a ser um professor, dentre todas as coisas: o sentimento de ser educado, de aprender.Foi isso que quis dizer com fazer a diferença.março de 2025esse texto foi inspirado em uma aula da faculdade que eu tive com um professor falando mais ou menos isso. e originalmente, ao invés de assassinos canibais, ele seria sobre lobisomens. e eu escrevi virando noite. não tenho mais o que colocar nos comentários. durma com essa...
não, não vou deixar você usar mais nada hoje.
você tá muito mal. se continuar assim, você vai acabar morrendo.
você não tá entendendo né? vou te mostrar o que quero dizer.
não quer que eu mexa? tudo bem, então tira você mesma, ok?
você precisa ficar sóbria.tira as bebidas, os cigarros, os vapes, a maconha.
tira as outras plantas, as outras pedras, os outros pós.
tira também toda a sua pilha de drogas e remédios.tira essa impulsividade, tira esse sentimentalismo.
tira esse conforto todo, tira esse seu conformismo.
tira essas suas roupas, essa sujeira, esse seu dinheiro.
tira esse seu orgulho, essa sua moral, essa sua humildade.
tira todas essas suas mentiras, suas palavras, sua verdade.tira essa sua pele. tira esses seus dentes.
tira esses seus seios. tira esse seu ventre.
tira essas suas pernas. tire esses seus braços.
tire essa sua boca, essa sua orelha, esse seu olho.
tira toda a sua carne, seu sangue, esse seu corpo.tira todo esse seu amor, tira toda essa sua ira.
tira toda essa sua dor. tira toda a sua alegria.
tira seus conhecidos. tira seus amigos. tira sua família.
tira todo esse seu medo. tira todo esse seu trauma.
tira toda a sua mente, tira a sua fé, tira a sua alma.pronto, agora sim você tá sóbria.
tirei todas as drogas que você usava.
o que sobrou pra você?
o que você tem?maio de 2025eu tava guardando esse texto pra ser uma introdução de um livro de poesias que eu vou fazer. talvez eu ainda faça ele, talvez não. pensando em mirar mais alto pra esse projeto, com algo mais desafiador (ou melhor, mais motivador) mas vou acabar terminando esse livro de poesias acho. espero. ou terminar o projeto ambicioso também... por que não os dois?
do cerne da terra, vem as pessoas, os animais, e as coisas.
os humanos erguem as pedras na forma de fazendas e casas,
e esculpem seus reinos e cidades nos formatos de suas almas.
se empenham ao pintar suas histórias na tela da verdade,
impõem ao mundo as suas mentiras e os seus nomes,
e arrancam da terra o material com o qual constroem.suas criações transformam-se a partir de suas fantasias.
as imagens de suas obras roubam lágrimas daqueles que acreditam.
humanos deixavam de ser animais, e passavam a ser artistas.
e o tempo levava a dureza e a cor das pedras da cidade,
corroía os papéis e histórias que fundaram o seu real,
e fizeram dos títulos os determinantes de sua falsidade.mas quando as construções humanas apodrecerem,
todas as suas paredes ruírem, fazendas quebrarem,
o vento levar seu dinheiro, sua glória, sua fantasia.
desde que haja um único ser humano, artista e mentiroso,
este usará dos imortais moldes de nossas dores e esforços,
para construir um castelo ainda mais belo do que podemos imaginar.junho de 2025
(esse texto continua em quebrar.)tentando voltar a escrever. fiz esse poema bem rápido, em um pensamento de momento, e to com sono demais pra revisar ou reler ele. então acho que é isso mesmo e foda-se
mas não é isso que vocês querem.
sempre trajados em sua falsa racionalidade,
criaturas como você, bichos chamados de homens,
vivem suas vidas cuspindo seus sonhos e sua arte.
mentem para os outros bichos, outros humanos, para si,
até todos acreditarem que seus sonhos são de verdade.nascidos com a dádiva de mentir, a dádiva de criar.
poderiam pintar um local onde até os mudos podem falar.
poderiam restaurar as criações daquilo que já pereceu,
poderiam ceder ao outro que nada tem, aquilo que é seu.
e se fossem bichos assim, poderiam sumir com suas dores,
vivendo para sempre em um lugar onde só o bom é real.mas você não quer isso, quer?
pois se mesmo quisesse, cederia sua comida a quem passa fome.
cederia sua noite aos que não dormem. sua alegria, a quem só chora.
a sua vida, a quem morre.
se encanta com as ruínas das criações daqueles que não tiveram sorte,
mas se recusa a ser como eles. se recusa a pintar sobre o mundo,
só pensar em pintar sobre você.admita, criatura egoísta, que quebrarias o que não te convém.
minta ao mundo que o ama, e cuspa sua nojenta arte em todo canto.
finja-te de humana, e convença aos outros que tu és um ser de bem.
criaturas sociais?
humanos não vivem em bando.junho de 2025
(esse texto começa em construir.)continuação direta de "construir." também escrito em uma sentada e super rápido, só que dessa vez escrito logo antes de uma viagem. very cool !!!!!!!!!
você se senta à mesa, se prepara, se anima,
com uma cartela e um copo cheio de milho,
ansiando pelo maior dos prêmios em um jogo:
sucesso na vida.você quer ganhar. você quer MUITO. todo mundo quer.
só uma cartela pode ganhar, mas vocês são todos amigos.
afinal, esse é um jogo. acima de tudo, ele tem que ser divertido.
certo?o bingo começa. seu ardente desejo de sucesso se mescla com a leveza do ambiente tranquilo.
conversa vai, conversa vem. ora você se cansa, ora perde o foco. mas permanece no jogo.
tudo vai bem. isso é divertido, certo? isso é um jogo, certo? maravilhoso
e então você começa a ver as outras cartelas do jogo.a maioria das pessoas precisa de uns 3 ou 4 números para ganhar.
várias pessoas precisam de 2. você viu algumas que só precisam de 1.
e você? você não marcou nenhum único número. haha. nenhum mesmo.
VOCÊ VAI PERDER
mas você se acalma.
tudo bem se eu perder, certo?
é só um jogo. e um bem divertido.
a vitória depende da sorte.
certo?…
haha
sua vida é um jogo?
VOCÊ TÁ FALANDO SÉRIO?
TE DERAM UMA CARTELA DE MERDA
E VOCÊ NÃO VAI FAZER NADA?
SEU FUTURO DEPENDE DESSE JOGO,
MAS VOCÊ VAI DEIXAR ISSO PRA SORTE?
VOCÊ VAI PERDER CARALHO
E MESMO ASSIM NÃO VAI FAZER NADA?HAHAHA
EU SABIA EU SABIA EU SABIA
EU SABIA QUE VOCÊ ERA ASSIM
DO TIPO QUE ATÉ IDOSO É SÓ UM GAROTINHO
DO TIPO QUE NÃO SABE NEM LIMPAR O CU SOZINHO
DO TIPO QUE ABAIXA A CABEÇA E ABANA O RABINHO
DO TIPO QUE SE ODEIA MAS TÁ SEMPRE SORRINDOO QUE VOCÊ DEVERIA FAZER?
QUALQUER COISA PORRA
PEGAR OUTRA CARTELA
FALAR COM O VENCEDOR DO PRÊMIO
FALAR COM A ORGANIZAÇÃO DO JOGO
REZAR PRA DEUS
REZAR PRO DIABO
CHORAR
GRITAR
ROUBAR
MATAR
QUALQUER COISA…
qualquer coisa,
menos desistir.julho de 2025poema escrito em uma sentada. eu tava em um jogo de bingo, com muito tédio; aí comecei a cantar uma melodia na minha cabeça, que eu adaptei em um poema. se tudo der certo, em breve me volto para o mundo da música! noites atacando em muitas frentes! uhul!!! (aliás, alguém roubou meu url "-bingo" no rentry em 2023. nada legal.
história de uma arma.
na madrugada, ela jogava um jogo.
precisava criar seu arsenal de combate.
testou cada uma das armas, uma a uma.
a espada,
o martelo,
a alabarda,
o machado,
a lança,
o escudo,
e todas as outras...
... mas nenhuma funcionava com ela.
ela pensou em desistir. pensou em mudar de jogo.
ela respirou fundo,
e decidiu continuar.animada, ela monta a própria arma.
com gotas de suor e lágrimas, peça por peça,
finalmente estava pronta a arma que iria usar.
uma arma que seria boa, como todas as outras,
uma arma que seria lembrada,
uma arma que seria amada.
e deu a ela o nome de ████.inimigo atrás de inimigo, desafio atrás de desafio,
████ rachava, era consertada, de novo rachava,
mas no fim de toda batalha, ela sempre vencia.
até que um dia, ████ parou de vencer.
e perdia.
e perdia.
e perdia.
e perdia.confusa, ela não entendia. por que?
perguntou a todos que jogavam o jogo.
disseram que ████ era frágil demais.
disseram que ████ havia tido muita sorte até agora.
disseram que ████ era ineficiente demais.
disseram que ████ não valia o esforço.
e também que talvez seria melhor mudar de arma.
e também que ████ não iria tão longe.de repente, sua preciosa arma não funcionava mais.
de repente, sua criação não servia de nada.
de repente, as pessoas esqueceram de suas vitórias.
de repente, ninguém amava ████.
e a diversão acabou.e ela pensou em desistir.
mudar de jogo.
mudar de arma.
mas ela não queria admitir.
não queria admitir que sua arma não funciona.pois se funcionar, então seu suor não serviria de algo?
pois se for boa, ela não será lembrada?
pois se vencer, ela não seria amada?
ela respirou fundo,
e tentou continuar.████ tem falhas estruturais, irremediáveis.
mas se for forte o bastante, ████ sempre vencerá.
determinada, ela aprimora a própria arma.
muito suor. muitas lágrimas. grandes peças.
ela ia mostrar pra eles que ████ era boa. a melhor.
provar que ████ merecia ser lembrada, idolatrada.
provar que ████ merecia ser amada.inimigo atrás de inimigo, desafio atrás de desafio,
████ quebrava, era reconstruída, de novo quebrada,
mas no fim de toda batalha, ela sempre vencia.
porém dia após dia, as lutas se tornam mais difíceis.
cada luta a arma fica mais forte, porém mais frágil.
cada vez mais suor e mais lágrimas são necessárias para reconstruí-la.ela sabia. sabia que eventualmente, ████ ia perder.
sabia que ████ era frágil e ineficiente.
sabia que ████ não merecia ser lembrada, nem amada.
mas ainda assim, ela se recusava a admitir.
mesmo sabendo que em breve, ████ vai quebrar.
mesmo sabendo que sua arma será esquecida.
mesmo sabendo que sua persistência é inútil.
mesmo sabendo que seu amor não é o suficiente.e em antecipação, com medo de perder,
ela tenta mudar de jogo.
se dar um intervalo.
jogar outra coisa.
torcer para sua motivação voltar.
mas o jogo da vida não tem pausa,
e sua preciosa arma logo vai quebrar.agosto de 2025já faz um tempinho! fiz esse texto durante a aula de farmacocinética, porque eu tava mal. então saiba que esse texto provavelmente valeu a minha nota da prova. leia com carinho.
promessas
estranho.
eu odiava isso.
eu queria, queria muito! mas ao mesmo tempo, não queria tanto assim; sabia que estava me forçando a isso. afinal, era o que esperavam de mim; e não queria causar mais problemas do que já estou causando. espera, que problemas estou causando? só ficava em silêncio no meu canto, seguindo aquele maldito caminho de pedra, criado muito antes de mim, esperando o dia em que eu desistisse. ou o dia em que eu morresse por dentro. ou o dia em que eu morresse por fora. mesmo assim, eu sabia que era errado pensar assim; não era uma questão de caminhos a serem seguidos, e sim uma questão de certo ou errado. não, na verdade isso não fazia nenhum sentido; a verdade é que isso precisava ser feito, agora mesmo, e que nós iriamos fazê-lo, pois era o nosso dever. mas compromisso não é lazer e a vida não é sobre dever, mas sim a relação que temos com os outros. no entanto, continuar querendo isso talv-e no meio dessa loucura, a única voz que prevalecia era a do silêncio.
e desse silêncio, a única coisa que eu sentia era o medo.
medo congelante, que me paralisava em um local e me botava de volta na rotina de sempre;
na confusão de sempre.
no vazio de todo dia,
na incerteza do agora,
na lenta morte do eu.
e esse medo, esse vazio, esse silêncio...
machucava muito, o tempo todo.
e eu odiava isso.odiava tanto, que no meu primeiro momento de força, eu PROMETI que isso mudaria.
que independente da confusão, do medo, do conflito, eu continuaria em frente.
pois no fim, de que adianta sentir algo que nunca vai se manifestar?
não posso esperar a felicidade para seguir em busca do sucesso.
PROMETI que teria poder para me mover independente da glória ou da dor.
sim, era isso que eu queria. no fim, eu queria ser mais.
mais do que fraca.
mais do que forte.
mais do que humana.os anos passaram, de pouco em pouco.
em meio a minha confusão, eu persisti.
e eu vi aquela promessa se tornar mais forte.
vi meu reflexo lentamente mudando à minha vontade,
meu medo se tornando mais fraco,
minhas emoções cedendo ao meu controle.
mas enquanto meu sucesso aumenta, vi minha paz se esvair.
vi o estresse consumindo meu corpo, minha mente, minha alma.
e vi aquela promessa se tornar maior. se tornar mais.
mais do que fraca. mais do que forte. mais do que humana.
e eventualmente, mais do que eu.e de pouco em pouco, ela tomou forma.
e se deu uma mente. e se deu um desejo.
e se deu uma voz.
e se deu um nome.
e mesmo assim, ansiou por mais.por causa dela, também me tornei mais.
mais bonita. mais esperta. mais feliz. mais triste.
mais generosa. mais egoísta. mais resiliente.
e com toda a certeza, mais confusa.
confusão poderosa a ponto de consumir até essa promessa pura,
e gravar em si a sede egoísta de se tornar maior, insaciável,
seguindo em frente mesmo que isso me cause dor.e agora, em noites de insônia, cá estou.
sucesso? sim, noite boa. fiz o que queria ter feito, disse o que queria ter dito.
feliz? não, mas também não triste. apenas vazia, como quem não precisa sentir.
no fim, diria que essa sensação é desejável. não boa, só desejável.
mas ainda é vazia. do mesmo jeito que eu tanto odiava. e ainda odeio....
estranho.
não era isso que eu queria?dezembro de 2025nunca tinha escrito algo tão direto para postar em público eu acho. aliás, primeiro poema que eu reviso em muito tempo.